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PERSONAGENS HISTÓRICOS
PERSONAGENS HISTÓRICOS

As grandes nações escrevem a sua autobiografia em três manuscritos: o livro dos seus feitos, o livro das suas palavras e o livro da sua arte.

 Frase de John Ruskin

1.HORACIO DE MATOS E RIVAL MILITÃO

2.LAMARCA E ZEQUINHA


1.HORACIO DE MATOS E RIVAL MILITÃO 

 

Horácio Queirós de Matos (Chapada Velha de Brotas de Macaúbas, 18 de março de 1882 — Salvador, 15 de maio de 1931) foi um político e coronel do sertão baiano da primeira metade do século XX.
Horácio de Matos foi chefe de verdadeiro exército de jagunços, envolvendo-se em diversas lutas armadas ao longo da vida - inclusive de forma capital na perseguição à Coluna Miguel Costa-Prestes.
Sua trajetória política principia ao ganhar a patente de tenente-coronel da Guarda Nacional, herdando de um tio o comando da família e, após muitas lutas contra adversários, tornou-se senhor absoluto de vasta região da Chapada Diamantina; Horácio foi intendente de Lençóis, então rico centro minerador, Senador estadual, verdadeiro símbolo do coronelismo que pautou a política brasileira durante a República Velha.
Apesar de uma vida pautada pelo belicismo, almejava o desarmamento do sertão e, quando este finalmente ocorre, morre assassinado em circunstâncias misteriosas, após ter sido imotivadamente preso pelo governo getulista instalado na capital baiana.


A família e o "Código de Honra"
Já aos 15 anos de idade demonstra sua bravura: seu pai e os irmãos mais velhos tinham saído e a fazenda é invadida por uma patrulha da polícia baiana, do Tenente Policarpo, que ameaça o garoto para que revele onde estavam os diamantes e os familiares. Horácio nega-se a falar.
Sua família, chefiada pelo coronel Clementino Matos, mantém longa inimizade com o coronel Militão Rodrigues, de Barra do Mendes. Sob os auspícios de seu parente, vai morar na então próspera cidade de Morro do Chapéu, onde recebe a proteção do Coronel Dias Coelho, estabelecendo-se ali como comerciante.
O coronel compra para o seu afilhado a cobiçada patente de tenente-coronel da Guarda Nacional, ganhando assim um verdadeiro título nobiliárquico com que a República Velha dotava seus destaques.
Em 1912 Horácio é chamado pelo velho coronel Clementino, que encontrava-se moribundo. Ali, num ritual familiar, recebe o comando da família - tal como se vê nas representações da Cosa Nostra siciliana - sendo nomeado seu sucessor. Horácio então, com uma grande palmatória, dá "bolos" em os demais membros da família, para que todos sintam-lhe a nova autoridade.
Jura, porém, antes, cumprir o código de honra familiar, que rezava:
Não humilhar ninguém, mas também nunca se deixar humilhar, por quem quer que seja;
Não roubar jamais, sejam quais forem as circunstâncias, nem permitir que alguém roube e fique impune;
Ser leal com os parentes e amigos, protegendo-os sempre;
Ser leal com os inimigos, respeitando-os em tempos de paz e enfrentando-os em tempos de guerra;
Não provocar, nem agredir, mas se for ofendido, colocar a honra acima de tudo e reagir, porque de nada adianta viver sem a dignidade.


O novo comandante dos Matos
Tão logo assume o poder patriarcal, Horácio vai em segredo até o arquiinimigo do clã, propondo uma trégua, que é aceita pelo coronel Militão. Essa trégua permitiu que famílias de Brotas de Macaúbas e Barra do Mendes, durante muitos anos afastadas, viessem a se visitar e se conhecer. Horácio começa a se projetar como líder, quando evita as pretensões de Militão, quando da morte do Coronel José João de Oliveira, em Brotas, em ocupar maior espaço de domínio.
Entretanto, a paz dura até o assassinato de seu irmão, Vítor Matos, na noite de 4 de dezembro de 1914. Finda a trégua na Chapada.


O "batismo de fogo"
Vítor Matos contava já com dezenas de mortes em seu histórico e assassinou uma moça e um homem que era cunhado do jagunço chamado Juvenal Cuscus, protegido do chefe político da localidade de Campestre (hoje distrito de Seabra, mas então um município), Manuel Fabrício.
Em dezembro de 1914 Vítor é morto com dois tiros de winchester por Cuscus, que refugia-se em Campestre. Apesar de a família exigir a pronta vingança, Horácio defende a resolução do conflito pela justiça, mas as intimações são rasgadas em praça pública. Em junho do ano seguinte Horácio protesta ao governador, mas não obtém resposta.
Horácio decide, então, atacar a vila. A batalha de Campestre, que durou 42 dias de cerco e lutas, foi a primeira na vida deste homem que, apesar de pregar o desarmamento do sertão, viveu sempre em lutas.


O cerco de Campestre
Após vencer mais de vinte léguas até Campestre, a cidade é cercada. Contava, para a defesa, cerca de 200 homens, dentre os quais 50 soldados da polícia estadual. Manuel Fabrício contava, ainda, com uma fortificação erguida para a defesa. Estrategicamente, Horácio manteve o cerco, esperando que a fome fizesse a parte maior do combate. Ao cabo de alguns dias, o Tenente Pedra e seus soldados desertam, tendo de Horácio a garantia de que não seriam mortos.
Ao lado de Horácio o chefe político do Pau Ferro, Eusébio Gaspar de Sousa, venceu os reforços de 130 soldados enviados da capital em socorro a Campestre, sob o comando do italiano Lelio Frediani.
Ao fim de 42 dias o antigo poderoso chefe de Campestre rende-se, com a promessa da reabertura do inquérito da morte de Vítor, marcando assim a decadência deste que foi um importante chefe político do interior, e o ocaso do município de Campestre, que acabou por extinguir-se.

   (Coronel Militão)


A luta contra Militão
A trégua habilmente pactuada por Horácio tem fim quando, em 1918, Militão Coelho invade Brotas de Macaúbas a fim de prender o "major Venas" (Joviniano dos Santos Rosa, tabelião), que lhe desobedecera. O major era compadre de Horácio, inclusive criando-lhe duas filhas naturais.
Dando mostras de seu estilo, o velho coronel ainda atira no maxilar de sua vítima, para que este nunca mais discuta suas ordens. Horácio vê que somente pela força pode se entender com Militão: invade Brotas de Macaúbas, resgatando seu aliado e preparando-se para a resposta. Militão, que estava na capital, retorna e os combates têm início.
Aos aliados de Horácio deram o apelido de mandiocas, ao passo que estes chamavam os de Militão de mosquitos.
Duas batalhas decidem o destino desta primeira refrega, após dois meses de intenso combate: Pega e Fundão. Horácio assume a chefia política da cidade, feito Intendente, ao passo em que Militão fortifica-se, em Barra do Mendes, então distrito de Brotas.
Derrotado em armas, Militão obtém uma vitória política, junto ao governador Antônio Muniz, com a emancipação de Barra do Mendes, levando ainda o distrito de Fundão e exigindo o distrito de Guigós ao vizinho Gameleira. Renovato Alves Barreto, líder daquela cidade, pede ajuda a Horácio, que envia cinqüenta homens a Gentio do Ouro, então um povoado entre as duas localidades.
Militão manda crucificar um amigo de Horácio, Onésimo Lima, e seus jagunços expropriam a Fazenda Melancia, tomando todo o gado de um seu parente. A guerra estava declarada.


A conquista de Barra do Mendes
Reconquistando a fazenda Melancia, Horácio vence as barreiras interpostas, uma a uma, através de trincheiras. O coronel finalmente inicia o cerco à cidade, mandando um ultimato para que as famílias pudessem sair em segurança.
Nas refregas, que duraram longos cinco meses, Horácio protagonizou um ato de heroísmo que animou sua tropa: tendo sido morto um seu sobrinho, e temendo o lugar onde este tombara, o coronel teria pessoalmente se esgueirado até o local tido por amaldiçoado e o conquista. O fato foi que, depois da queda desta trincheira, seus jagunços encheram-se de novo ânimo, destruindo a fortaleza de Militão com dinamites (então de fácil aquisição, sendo a região mineradora), forçando a fuga do inimigo: não sem antes capturar Nestor Rodrigues Coelho, filho de Militão - e que libertou, em seguida.
Horácio exigiu que Militão fosse afastado da política local e que a Sede do município de Barra do Mendes fosse transferida para o Jordão, (atual Ipupiara). Horácio de Matos e João Arcanjo reanexam informalmente o território de Barra do Mendes ao de Brotas de Macaúbas. A extinção oficial do município se deu pela Lei Estadual nº 1.388 de 24 de maio de 1920.
Era o fim do velho Militão, e início da hegemonia sertaneja de Horácio de Matos.


A marcha contra Salvador
Quadro político
O cenário político da Bahia era dominado pela figura do governador Seabra que, num acordo, firmara seu apoio a Antônio Muniz, que o sucedera, desde que este fizesse o mesmo em volta.
Assim, vencendo uma oposição que contava com nomes como Ruy Barbosa, Luiz Vianna, Simões Filho e Octávio Mangabeira, consegue J. J. Seabra voltar ao governo. Derrotava a Paulo Martins Fontes. A oposição engendrou um plano, que contaria com a participação ativa de Horácio de Matos: o sertão iria contestar a eleição, e provocar um levante armado. Esta situação forçaria uma intervenção federal, tolhendo a posse de Seabra e com a realização de novas eleições, desta feita com Seabra desmoralizado.


A adesão de Horácio
Tendo em duas ocasiões enfrentado as tropas da polícia, enviadas por Muniz contra si quando do cerco a Campestre, não hesitou Horácio em responder aos oposicionistas positivamente, somando-se a isto o fato de que estes lhe acenavam com recursos e armamentos.
Com apoio de outros coronéis (Anfilófilo Castelo Branco, de Remanso e Marcionílio Antônio de Sousa, de Maracás), Horácio invade e conquista a maior cidade da Chapada, Lençóis, que se entrega sem que um só tiro seja disparado.
Em 17 de fevereiro de 1920 Muniz Aragão pede a intervenção federal. Epitácio Pessoa despacha à Bahia dez mil soldados. A posse de J.J. Seabra é assegurada, e o comandante do Exército acha prudente negociar a paz, evitando assim a marcha a Salvador.


Um "governo" no Sertão: O Convênio de Lençóis
A proposta é levada ao coronel pelo general Cardoso de Aguiar, e a Horácio é oferecido, em linhas gerais, um acordo que lhe dava a chefia plenipotenciária de onze cidades da Chapada (Lençóis, Palmeira, Seabra, Barra do Mendes, Brotas de Macaúbas, Paramirim, Bom Sucesso, Guarani, Wagner, Macaúbas e Piatã) e ainda:
Anistia por todos e quaisquer atos praticados durante o levante;
Direito de permanecer com as armas e munições;
Manuel Fabrício' é desarmado e expulso de Campestre;
Direito de eleger dois deputados estaduais;
Direito de eleger um senador estadual - sendo por Horácio indicado seu próprio nome.
Foi o chamado Convênio de Lençóis. Que não foi uma garantia de paz.


A marcha contra Lençóis
A sucessão de Seabra foi uma surpresa: é eleito Góis Calmon, então um jovem praticamente desconhecido. Os dois chefes de Lençóis usam de suas artimanhas para granjear a simpatia do novo mandatário, tendo Horácio cumprido o mandato de dois anos como senador.
As suas mensagens telegráficas para a capital são adulteradas pelo telegrafista, partidário do seu adversário, coronel César Sá: de Horácio Góis Calmon recebe apenas mensagens acintosas e confrontadoras.
O governador então destitui o delegado da cidade, partidário de Horácio, nomeando um fazendeiro aliado de César Sá. Sua posse é obstada, e este marcha para Lençóis com soldados e jagunços num montante de setecentos homens, contra cerca de trezentos da cidade.


"Corpo fechado"
Ao cerco resistem bravamente Horácio e seus soldados. As batalhas se sucedem. O major Mota Coelho manda avisar que entrará na cidade. Horácio prepara-lhe uma cilada, à entrada. Quando o major aponta, acompanhado por uma pequena tropa, o próprio Horácio se lhes assoma, peito aberto - com seus jagunços atirando pelos lados - assombrando aos assaltantes. Mota Coelho é morto, e uma bala sem muita força perfura o paletó do Coronel Horácio sem sequer feri-lo: tem início mais um mito em torno desta legendária figura: Horácio de Matos tem o "corpo fechado"!]


A paz que veio do Rio Grande do Sul
Eclodira entre os gaúchos uma revolta capitaneada por Assis Brasil. Num discurso, este alude à revolta de Horácio, na Bahia. O governo federal, então sob a presidência de Artur Bernardes, despacha imediatamente emissários a Horácio, temendo que o clima sedicioso se alastrasse.
As hostilidades cessam de imediato, e a paz foi negociada, tendo como intermediário o deputado federal Francisco Rocha.


O coronel que derrotou a Coluna Prestes
A chamada "invicta" Coluna Prestes cortava o Brasil, numa desvairada tentativa de arregimentar as massas camponesas para a causa contra o estado de sítio de Arthur Bernardes. Percorreu 36 mil quilômetros, pelo país, "por onde deu início a revolução em movimento"
A propagandeada "invencibilidade" da Coluna é mais uma fábula pois, se não foi derrotada, jamais conheceu vitória. Sob o comando de Luís Carlos Prestes, ex-integrante do tenentismo convertido ao comunismo, a Coluna cometeu um erro, ao passar pela Bahia: matou dois parentes de Horácio de Matos, um chefe de jagunços, afeito às lutas nas caatingas e matas da Chapada.
Prestes ainda tenta cooptar o Coronel, mas este já organizara, sob auspícios do governo federal, o Batalhão Patriótico Chapada Diamantina: os antigos jagunços eram agora homens de farda, com soldo, e uma missão. Horácio era o comandante-em-chefe do Batalhão e sua campanha foi registrada em diário de campanha pelo Capitão-ajudante Franklin de Queiroz.
Tem início assim a maior perseguição que a nossa História já registrou, impingindo os "cabras" do sertão baianos sucessivos reveses à Coluna, forçando-a a deixar o Brasil e penetrar as terras bolivianas, em fevereiro de 1927, sob o comando do tenente Procópio Sabino Diamantino, recebido depois como herói na Chapada.
Os jagunços, entretanto, ávidos pelo combate, e tendo reduzido a famosa coluna a poucos homens, intenta penetrar em São Matias, sendo barrados por uma guarnição boliviana, que não permite-lhes a invasão do território.


Regresso dos combatentes
Horácio não pôde participar do retorno do Batalhão, acometido que fora de apendicite - forçado a internar-se em hospital no Rio de Janeiro. Seus homens chegam a Lençóis sendo recebidos como heróis por verdadeira multidão vinda de todas as partes.
Obtém Horácio do governo os cargos que perdera anteriormente, recebendo como presente do jornalista Geraldo Rocha uma prensa Marinoni, com a qual passa a publicar um jornal, chamado "O Sertão".


Intendente de Lençóis
Lençóis, verdadeira capital das "Lavras Diamantinas", conhecera um franco desenvolvimento provocado pela mineração e comércio do diamante. Riquezas eram feitas da noite para o dia, e a cidade prosperava a ponto de rivalizar, em movimento comercial, com Salvador, então já um tanto estagnada.
Após o fim da caçada a Prestes, Horácio de Matos é feito intendente da cidade, procurando ali realizar uma administração com muitas melhorias urbanas.
Ocupava a prefeitura quando a Revolução de 30 novamente clama pelas ações de Horácio. Este chega a formar quatro batalhões, para resistir à ruptura da legalidade, mas a renúncia de Washington Luís o demove da idéia, e logo uma das primeiras medidas dos que assumiam o poder foi propor ao chefe sertanejo o desarmamento geral.
Contraditoriamente, esta foi uma idéia pela qual sempre se batera Horácio de Matos. Sonhava com o sertão sem armas, e aderiu à proposta, com toda a força que seu nome possuía. A Comissão de Desarmamento, capitaneada pelo general Jurandir Toscano de Brito vai a Lençóis, sob o pretexto diplomático.
Ali tem uma recepção "carinhosa, sincera e franca", a ponto de lançar manifesto em que exaltava tal manifestação popular, onde dizia: "que sejam esquecidas todas as antigas desavenças políticas, pois no Brasil Novo não há lugar para aqueles que sobrepõem seus caprichos pessoais à glória e à grandeza da Pátria!"


Uma cilada, uma tocaia
A Revolução, tão logo desarmou o sertão, manda prender os chefes, e Horácio de Matos é feito prisioneiro a 30 de dezembro de 1930.
Levado a Salvador, é solto condicionalmente, por não existir contra si culpa formada.
Na noite de 15 de maio de 1931 sai para passear com a filha de seis anos. O agente policial Vicente Dias dos Santos o aguarda. Diante de testemunhas, alveja o coronel, caudilho da Chapada, Governador dos Sertões. Três tiros pelas costas.
Morre Horácio de Matos, o maior dos coronéis da Bahia.
Pelo crime, o assassino é absolvido. Não revela seus mandantes. Pouco depois de ser solto sofre um atentado, do qual escapa. Entretanto, morre pouco depois, misteriosamente. Registrou Claudionor Queiroz: "Dizem que Vicente morreu de feitiço!..."
Com a morte do coronel Horácio de Matos também morre o coronelismo no Brasil.

 

 

2.LAMARCA E ZEQUINHA

   (Lamarca)         (Zequinha)

PASSAGENS DO CAPITÃO LAMARCA E ZEQUINHA EM BROTAS DE MACAUBAS BA

 

Carlos Lamarca

(Rio de Janeiro, 23 de outubro de 1937 — Pintada, 17 de setembro de 1971) foi um dos líderes da oposição armada à ditadura militar brasileira instalada no país em 1964.
Capitão do Exército Brasileiro, desertou em 1969 tornando-se um dos comandantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), organização da guerrilha armada de extrema-esquerda que combatia o regime. Elevado à condição de ícone revolucionário do socialismo e da esquerda brasileira,[1] foi condenado pelo regime militar como traidor e desertor e considerado seu principal inimigo.[2] Caçado pelas forças de segurança por todo o país, ele comandou diversos assaltos a bancos, montou um foco guerrilheiro na região do Vale do Ribeira, sul do estado de São Paulo e liderou o grupo que sequestrou o embaixador suíço Giovanni Bucher no Rio de Janeiro, em 1970, em troca da libertação de 70 presos políticos.
Perseguido por mais de dois anos pelos militares, foi localizado e morto no interior da Bahia em 17 de setembro de 1971. Trinta e seis anos após sua morte, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça sob supervisão do Ministro da Justiça Tarso Genro, dedicou sua sessão inaugural a promovê-lo a coronel do Exército e a reconhecer a condição de perseguidos políticos de sua viúva e filhos.


Morte


Em 22 de março de 1971, Lamarca desligou-se da VPR e ingressou no MR-8, organização de Iara.[48] Depois de meses fechado com ela em "aparelhos" do Rio - trancado com a mulher numa casa no Largo do Machado pertencente a simpatizantes, ameaçou se matar com uma bala e explodir o esconderijo com o gás do fogão se fosse descoberto  - ele foge para a Bahia, onde deverá se estabelecer no interior do estado para incrementar o dispositivo rural, enquanto Iara fica em Feira de Santana, antes de ser levada para Salvador por outro militante. Apresentando-se como 'Cirilo', um geólogo, chega a Buriti Cristalino, em Brotas de Macaúbas, no sertão baiano, a 700 km da capital.[50]
Mesmo não estando mais no confinamento dos aparelhos, Lamarca vivia confinado em uma tenda, tomava banho de noite e enterrava as fezes para não deixar rastros. Começou aí a escrever cartas para Iara, onde demonstrava seu estado de ânimo, seu amor por ela e se imaginava triunfante na guerra que travava.[51] Seu dispositivo montado em Buriti era baseado em José Campos Barreto, o Zequinha, ex-metalúrgico organizador de várias greves no ABC Paulista em 1968 e que já havia passado pela VPR e pela VAR-Palmares, antes de se ligar ao MR-8. Com ele, estavam seus pais e irmãos e um amigo professor socialista.


Operação Pajussara
O destino de Lamarca começa a ser traçado em 21 de agosto, quando o guerrilheiro César Benjamin, fugindo de um cerco policial em Ipanema, no Rio de Janeiro, deixa no carro que ocupava um diário de Lamarca e cartas dele para Iara, descobertas pela polícia. Cruzando os dados de topografia e vegetação descritos nelas, junto com informações conseguidas com militantes do MR-8 capturados na Bahia, os militares identificam a área de Buriti Cristalino como o provável esconderijo do ex-capítão. Um dia antes, 20 de agosto, informações extraídas de um guerrilheiro capturado em Salvador, José Carlos de Souza, permitiram aos agentes localizarem Iara Iavelberg num apartamento no bairro da Pituba, na capital. A mulher de Lamarca é morta à tiros escondida num quarto cheio de gás lacrimogênio, após a invasão do local pelas forças de segurança. A versão oficial de sua morte, suicídio, só seria desmentida mais de trinta anos depois, quando seus restos mortais foram exumados em São Paulo.
De posse das informações cruzadas, o comandante do DOI-CODI baiano e chefe da 2ª Seção do Estado-Maior da 6ª Região Militar, major Nílton Cerqueira, monta a operação para caçar Lamarca, chamada de Pajussara, em homenagem a uma praia de Maceió. O efetivo consiste em um total de 215 homens das três forças armadas, mais policiais federais, do DOPS e da Polícia Militar da Bahia, incluídos 18 homens do Para-Sar.
No dia 28 de agosto, os homens de Cerqueira invadem Buriti. Um dos irmãos de Zequinha, Olderico, abre fogo contra a tropa e cai ferido com um tiro no rosto. Outro irmão, Otoniel, de 20 anos, é morto á rajadas de metralhadora. O professor se suicida com um tiro na cabeça num quarto da fazenda. O patriarca, José, um lavrador de 64 anos, não está na casa no momento, mas quando chega começa a ser torturado junto com o filho ferido. Fica horas apanhando pendurado de cabeça para baixo pelos homens de Cerqueira e Fleury, que foi para a Bahia participar da captura.
Em Buriti, Lamarca e Zequinha escutam o tiroteiro, abandonam o acampamento e saem em marcha pelo sertão, andando nove quilômetros em uma noite. Seguem pelas montanhas e descem num povoado. Denunciados, entram novamente na caatinga. Doente e desnutrido, Lamarca era carregado nas costas por Zequinha. Iam em direção a Brotas de Macaúbas, alimentando-se de rapadura e bebendo água dos tanques de gado.
Os dois fugiram por trezentos quilômetros durante vinte dias até chegarem à localidade de Pintada, um povoado no meio do nada com apenas cinquenta casas, no distrito de Ibipetum. Um menino viu os dois homens deitados descansando sob uma baraúna e em pouco tempo a notícia chegou aos perseguidores. As três horas da tarde de 17 de setembro, os homens de Cerqueira chegaram ao local e surpreenderam a dupla. Zequinha, ouvindo o barulho de um galho estalado, avisou o chefe e tentou correr, sendo morto por uma rajada de metralhadora. Lamarca foi morto com sete tiros quando tentava se levantar. Um dos tiros atravessou-lhe o coração e os dois pulmões. Seu corpo foi pendurado num pau e levado até uma camionete, de onde foi transportado à Baraúna e de lá para a base aérea de Salvador, onde os corpos foram fotografados no chão de cimento. Lamarca ainda tinha os olhos abertos.
Sepultado no Campo Santo de Salvador, em cova com número mas sem nome, sua morte foi seguida de um comunicado do diretor da Censura Federal a todos os meios de comunicação, em 22 de setembro de 1971: "Por determinação do presidente da República, qualquer publicação sobre Carlos Lamarca fica encerrada a partir da presente, em todo o país. Esclareço que qualquer referência favorecerá a criação do mito ou deturpação, propiciando imagem de mártir que prejudicará interesses da segurança nacional.


Na cultura popular
Em 1980, ainda durante o governo de João Baptista Figueiredo, os jornalistas Emiliano José e Oldack Miranda escreveram Lamarca, o Capitão da Guerrilha, livro sobre a vida de Carlos Lamarca. Baseado na obra, em 1994 o cineasta Sérgio Rezende lancou o filme Lamarca, com Paulo Betti no papel do guerrilheiro. Betti voltaria a interpretar Lamarca doze anos depois, em Zuzu Angel, também de Rezende.
Placa da turma da Escola Preparatória de Cadetes, hoje Colégio Militar de Porto Alegre, cujo nome de Carlos Lamarca foi removido e depois restaurado (em destaque).

 

Homenagens

A prefeitura do município de Ipupiara - Bahia, construiu, na comunidade de Pintada, local onde Lamarca foi morto, uma praça em sua homenagem, a qual contem uma estátua de Carlos Lamarca, anfiteatro, playground, fonte luminosa e cantina. A praça Capitão Carlos Lamarca foi inaugurada no dia 13 de janeiro de 2007. O município também homenageou Lamarca criando uma lei através da qual acrescenta no calendário dos feriados municipais o dia 17 de setembro.
Uma rua foi batizada com seu nome em São Bernardo do Campo, SP.
Em 2007, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça concedeu a patente de coronel do exército a Carlos Lamarca, que morreu como capitão. Sua esposa, Maria Pavan Lamarca, passou a ter direito à pensão mensal equivalente ao salário de general-de-brigada e foi estipulada uma indenização no valor de R$100 mil a cada um de seus dois filhos, pelos onze anos em que foram obrigados a viver exilados em Cuba. Além disso, a família de Lamarca recebeu o status de perseguidos políticos, por haver registro de monitoramento de suas vidas nos arquivos do Serviço Nacional de Informações (SNI).
Em 2010, entretanto, acatando ação do Clube Militar, a juíza Cláudia Maria Pereira Bastos Neiva da 14ª. Vara Federal do Rio de Janeiro, suspendeu o pagamento de indenização e pensão à viúva Maria Pavan. A questão continua indefinida, aguardando pronunciamento de instâncias superiores. Segundo a juíza, "Lamarca não foi atingido por 'atos de exceção'. Sua exclusão do Exército se deu por abandono, caracterizado na época como crime de deserção.